Uma roda de conversa sobre
consumo agroecológico deu início à programação de Santa Catarina no Dia
Mundial de Luta contra os Agrotóxicos. Representantes da sociedade civil
e de entidades envolvidas com a questão da agricultura se reuniram,
nesta segunda-feira (3/12), em frente a Catedral Metropolitana de
Florianópolis para discutir sobre as possibilidades de produção e de
consumo de alimentos orgânicos e agroecológicos e sobre as consequências
que o "PL do Veneno", PL n. 6.299/2002, pode causar caso seja aprovado
pelo Congresso Nacional.
"A ideia do evento
foi sair da sede do Ministério Público, onde sempre são realizadas as
reuniões, para vir para rua. Queremos informar a sociedade sobre a
tramitação desse Projeto de Lei, que se aprovado trará sérios riscos à
saúde dos cidadãos, sobre as possibilidades que hoje existem de produção
e de consumo, para desmitificar essa ideia de que o agrotóxico é
imprescindível para produção de alimentos", explicou a Presidente do
Fórum Catarinense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos
(FCCIAT) e Coordenadora do Centro de Apoio Operacional do Consumidor do
MPSC, Promotora de Justiça Greicia Malheiros.
A
roda de conversa foi conduzida pelo vereador da Capital Marquito e
pelos representantes do Laboratório de Comercialização da Agricultura
Familiar (LACAF), do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de
Grupo (CEPAGRO), do assentamento da Comuna Amarildo de Souza, que
realiza entregas de cestas agroecológicas, e do Projeto Revolução dos
Baldinhos, que trabalha com gestão de resíduos e agricultura urbana.
Cada
um dos participantes falou também sobre suas estratégias de produção e
acesso aos alimentos, buscando trocar experiências e informar a
população sobre a importância de aproximar o consumidor do produtor.
A
atividade faz parte de um ato público organizado pelo Fórum Catarinense
de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos (FCCIAT) e
coordenado pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) que segue
durante todo o dia em Florianópolis.
Às 16h,
na Câmara Municipal, haverá uma palestra com o médico Pablo Moritz, do
Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina
(CIATox/SC), que falará sobre os impactos do consumo de agrotóxicos para
a saúde. Logo após, acontecerá uma solenidade de entrega do Dossiê da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) para os vereadores de
Florianópolis. Segundo o Dossiê, no Brasil - que pelo décimo ano
consecutivo lidera o ranking de maior consumidor de agrotóxicos no
planeta - 64% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos. A ideia é
sensibilizar os representantes Legislativos com a apresentação desses e
de outros dados.
A partir das 17h, em frente à
Catedral, Rogério Dias, que faz parte da diretoria da Associação
Brasileira de Agroecologia, encerrará o evento com uma palestra sobre os
retrocessos que o PL do Veneno traz em seu texto, além de comentar
sobre um Projeto de Lei de iniciativa popular que está sendo construído
para criar uma política nacional para a redução de agrotóxicos.
"É
exatamente um contraponto a PL do veneno, a proposta não é facilitar o
registro de agrotóxicos, mas criar um mecanismo no país para que cada
vez a gente use menos agrotóxico na nossa agricultura e nos nossos
alimentos", comentou Rogério, que também esteve presente na roda de
conversa.
PL do Veneno
Projeto
de Lei nº 6299, batizado de PL do Veneno, tramita no Legislativo
Federal. Fórum Catarinense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e
Transgênicos (FCCIAT), junto com outras 328 Organizações, assinou um
manifesto contra o PL do Veneno, que já foi aprovado em todas as
comissões da Câmara dos Deputados e está pronto para votação em
Plenário.
O PL altera artigos da Lei nº 7.802, de 1989, a
única legislação até hoje a regrar o uso de agrotóxicos no país. Dentre
os pontos preocupantes do Projeto, está a proposta de alteração da
nomenclatura de agrotóxico para defensivos fitossanitários. Outros
pontos polêmicos envolvem a fase de registro sanitário de um agrotóxico.
Hoje,
para entrar no mercado, um produto precisa passar por uma avaliação de
perigo e na sequência, por uma avaliação de risco. Se algum fator de
perigo é indicado, automaticamente o processo de registro do agrotóxico é
suspenso. Com a PL, essa etapa de análise será extinta, e com isso,
todos os agrotóxicos que já tiveram seus registros barrados nessa etapa
podem tentar novamente a inserção no mercado.
Além disso, o PL
prevê que um produto novo no mercado leve até 24 meses para ter seu
registro aprovado. Enquanto isso não acontece, a empresa detentora da
fórmula pode obter uma autorização temporária de comercialização, sem
que os estudos de impactos ambientais sejam feitos. Os mesmos estudos
também não serão mais necessários, se o PL for aprovado, para
agrotóxicos exportados.
O FCCIAT
Fórum Catarinense de
Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos (FCCIAT) foi criado
em fevereiro de 2015 e hoje conta com a participação de aproximadamente
100 entidades públicas e organizações sociais, constituindo-se em um
espaço permanente, plural, aberto e diversificado de debate para a
formulação de propostas, discussão e fiscalização de políticas públicas,
assim como de questões relacionadas aos impactos negativos dos
agrotóxicos, produtos afins e transgênicos na saúde do trabalhador, do
consumidor, da população e do ambiente.
ROGÉRIO DIAS, DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA
EUNICE BRASIL VIEIRA, DA EQUIPE DE SENSIBILIZAÇÃO DA REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS
"Eu
vim na conversa para pegar informações, para levar uma informação mais
concreta para a comunidade. É muito importante a gente passar essa
consciência do não uso dos agrotóxicos, para a comunidade escolher
alimentos mais saudáveis e aproveitar melhor esses alimentos."
ANA PAULA FERREIRA DA SILVA, DO CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS DA DÉCIMA REGIÃO - SANTA CATARINA
"A
PL do veneno é uma ameaça na questão da segurança alimentar e
nutricional, porque ela não garante o acesso da população a alimentos
seguros. Nós, nutricionistas, recomendamos que as pessoas se alimentem
de frutas, verduras e legumes, aí esses alimentos, que devem ser uma boa
parte da nossa alimentação, se eles estiverem com agrotóxicos, que
benefícios que eu vou ter? Eu vou ter nutrientes, mas estarei cheia de
agrotóxicos, que vão trazer diversos tipos de consequências."
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