Cientista Mônica Lopes Ferreira revela riscos à saúde |
Dados
de pesquisa científica do Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização
Celular (CeTICS), de São Paulo, revelam que em doses até 30 vezes inferiores aos limites máximos tolerados pela
legislação os agrotóxicos testados em zebrafish, pequenos peixes que têm 70%
do genoma similar ao dos seres humanos, não são seguros para a saúde e o meio
ambiente. Os efeitos decorrentes foram a mortalidade e anomalias diversas nos
animais, reconhecidos internacionalmente como referência para estudos
científicos. Há 85% de probabilidade de que as doenças verificadas nos peixes também
ocorram nos humanos.
A
pesquisa foi apresentada pela imunologista Dra. Mônica Lopes Ferreira, diretora
do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada (LETA) e coordenadora da
Plataforma Zebrafish, aos participantes da reunião plenária do Fórum
Catarinense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos (FCCIAT),
ocorrida no dia 21 de outubro. Além da contribuição científica, o resultado da
pesquisa traz graves preocupações pelo fato de os agrotóxicos também estarem
presentes nas águas brutas e, em muitos casos, também na água tratada para
consumo humano.
A
convite do FCCIAT e do Ministério Público de Santa Catarina, por intermédio do
Centro de Apoio Operacional do Consumidor e do Centro de Estudos e
Aperfeiçoamento Funcional, a cientista trouxe evidências de que concentrações inferiores às dosagens legais definidas como seguras no uso dos
agrotóxicos – abamectina, acefato, alfacipermetrina, bendiocarbe, carbofurano,
diazinon, etofenprox, glifosato, malationa e piriproxifem – causaram a morte ou
efeitos de teratogenicidade (malformações congênitas no feto), carcinogênese
(formação de câncer) e a neurotoxicidade (dano ao cérebro ou ao sistema
nervoso) às populações-alvo de zebrafish (Danio rerio).
A
pesquisa foi realizada pelo CeTICS a pedido do Ministério da Saúde (MS) e da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para avaliar a exposição dos peixes às doses
preconizadas como segura. Os resultados foram apresentados de forma inédita no
FCCIAT. “Há dois meses, o assunto vem sendo comentado nas redes sociais, mas eu
escolhi a plenária do Fórum de Santa Catarina para apresentar publicamente os
dados pela primeira vez”, comentou a pesquisadora, revelando que o FCCIAT foi o
que primeiro lhe deu apoio ao sofrer repressões em função da pesquisa – ver
Moção de Apoio.
Conforme decisão proferida em 22 de outubro, o juízo da Vara da Fazenda Pública de São Paulo invalidou a punição aplicada pela Comissão de Ética do Instituto Butantan, que suspendia a pesquisadora por seis meses. Segundo o magistrado Luís Pires, "não há qualquer ponderação, por parte da Comissão de Ética, a respeito do resultado da pesquisa. Se há fortes indícios da toxicidade dos produtos ao meio ambiente, se há alta probabilidade que a exposição aos principais agrotóxicos usados no país causem problemas aos seres humanos, toda esta gama de informações, de inquestionável interesse público, foi posta ao largo pela comissão. Neste ponto, entre o dever de informar contido nas atribuições de uma pesquisadora, e o inexplicável silêncio da comissão de ética, além da intuitiva percepção de ter que prevalecer o primeiro, ainda se deve acrescer que ambas – pesquisadora e comissão – encontram-se no exercício de função pública, o que faz incidir o princípio republicano (art. 1º da Constituição Federal) que impõe os deveres de transparência e de prestação de contas em relação ao cidadão – o primeiro, dever de transparência, igualmente presente no princípio da publicidade previsto no art. 37, caput, da Constituição Federal."
Pesquisas internacionais confirmam
evidências
Na
sequência da apresentação da pesquisa do CeTICS, o pesquisador do Centro de
Informações Toxicológicas (CIATox/SC), médico Pablo Moritz, abordou os impactos
de pesquisas internacionais a respeito dos agrotóxicos na saúde. “Sofremos com
uma série de doenças causadas por essa exposição aos agrotóxicos, como os
resíduos na comida, na água e no ar. Disso decorrem uma série de doenças
graves, e continuamos a produzir dessa maneira, sem ouvir a ciência. Minha
posição hoje é a de mostrar o que a ciência vem confirmando, para que possamos
debater e mudar a maneira de produzir alimentos”, afirmou o pesquisador.
Com
a exposição de estudos que comprovam a associação dos agrotóxicos com a
elevação do risco de doenças como linfoma, leucemia, câncer de mama e de
próstata, Alzheimer e Parkinson, o pesquisador confirma que não há dose segura
de agrotóxicos para o sistema nervoso central em desenvolvimento; para os
órgãos endócrino-dependentes em desenvolvimento; para o envelhecimento cerebral
bem-sucedido; e para o equilíbrio do sistema endócrino em todas as idades.
Modificação genética sem precaução
Cientista Sarah Agapito aborda organismos transgênicos |
A
cientista Sarah Agapito Tenfen, que integra a equipe do laboratório do GenØk
(Centro de Biossegurança), da Universidade Ártica da Noruega, proferiu palestra
sobre as novas tecnologias de modificação genética, incluindo a técnica
conhecida como edição de genomas.
Em
sua fala, destacou que o Brasil é signatário da Convenção da Diversidade
Biológica, do Protocolo de Cartagena e editou a Lei de Biossegurança, que
preveem a observância do princípio da precaução no ordenamento jurídico
brasileiro, contudo, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
passou a regular de modo contrário, permitindo a liberação de transgênicos sem
quaisquer testes de segurança ambiental e alimentar. O tema será objeto de
estudo do FCCIAT para adoção de providências perante as autoridades
responsáveis pela matéria.
“Nesta
sessão ordinária, que contou com mais de 100 participantes, abordamos temáticas
de extrema relevância, como a tributação verde, que vem sendo defendida pelo
Fórum desde 2016, e temas de grande profundidade científica, que precisam ser
considerados por toda a sociedade. Esperamos que, com a apresentação de dados e
estudos científicos neste dia, possamos caminhar para uma pauta de incentivo à
agroecologia e à produção segura de alimentos”, afirmou o Coordenador do Centro
de Apoio Operacional do Consumidor (CCO), Promotor de Justiça Eduardo Paladino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário